25 de dezembro de 2008

Cont...

Depois de três dias já estava entediada. Jandira era meu refúgio e a cada dia que passava nossos vínculos ficavam mais fortes. Ela sabia quando eu não estava bem, e eu sentia quando ela estava triste por sua mãe não melhorar.
Só ela entendia o quanto era importante para mim fugir de toda a realidade e a única que me ajudava com isso também, sempre me ocupava com alguma coisa, percebeu rápido que gostava de ajudar e de fazer coisas úteis e sempre me arrumava uma. Pois que a realidade e os fatos viessem, mas com calma para que um por um fossem digeridos. Então, tentava não pensar muito naquilo tudo.
Mas uma semana depois tive um leve descuido e quando dei por mim já estava refletindo a situação (é tinha evitado até então). A situação já era degradante demais para pensar em todo o resto. Mas a verdade é que aconteceu e fiquei bem pior do que já estava ao enfrentar a realidade.
Bom, eu era uma garota que uns meses atrás estudava, e trabalhava, andando pela cidade inteira, o dia todo, hiperativa. E que agora desaparecera do mapa (bum!), sem nenhuma explicação não passava pelas mesmas ruas que caminhava todos os 365 dias do ano, que trancou a faculdado do nada, não ajudava mais o pai no serviço, e que não entrava mais em internet, não respondia e-mails e nem fazia telefonemas...
Eu agora era uma garota, que tinha uma família enorme, conhecia uma boa quantidade de gente, que morava numa cidade do interior onde todo mundo conhece todo mundo... e que estava internada no único hospital do lugar acometida de uma doença até então sem histórico na região. E ninguém perguntou onde eu estava, e ninguém se preocupou em mandar um e-mail me perguntando o motivo do sumiço, a razão da falta de notícias, o porquê do abandono... ninguém foi me ver em casa, e o celular não tocou e eu não recebi visitas em um mês de internação.
Bastou dizer para o tio que morava na mesma casa que estava viajando que mais nenhuma pergunta foi feita, questão sem interesse algum. E bastou falar para as visitas da minha mãe que não me encontrava em casa que o assunto foi encoberto por algo mais interessante. E onde estavam os colegas de bares, copos e badernas? E onde estavam os parentes? Onde estavam os amigos de faculdade? As pessoas que ela amava e que jurara amor e amizade eterna?!?
Em algum lugar da cidade... com pessoas mais importantes, interessantes, bonitas e especiais.
Mas ainda tinham duas pessoas que acreditavam em mim, meus pais. E eles e eu.. e só.

E eu chorei a noite inteira, e a manhã inteira e a tarde também... chorei por ser tão pobre de mim a ponto de ser incapaz de ser auto suficiente. Chorei por não Ser... Chorei... Choro... porque não Sou e pelo que nunca Serei.

15 de novembro de 2008

Terceiro Dia...

Renata (a nutricionista), que significa Renascida. É engraçado como o nome às vezes combina com seus respectivos donos, mas dessa vez a pessoa que carregava proporcionava-o a mim (embora verdade seja que amassei como papel velho e joguei no lixo). Mas é realmente magnífica a vontade de que muitas pessoas teem de ajudar aos outros. Ela era uma dessas.
Conheci-a no início do 3º dia. Uma moça loira, alta, corpulenta, olhos claros e voz suave. Estava no banho já imaginando na revolta que ia soltar em cima dela, imagine uma estranha querendo escolher o que ou se eu ia comer. Mas a atitude foi outra quando saí, a verdade é que a intenção é bem desproporcional aos nossos atos. Ela conversava com Dona Ernestina, minha vizinha de leito e ao contrário dos outros que tinha encontrado pelo caminho, ela sabia escutar o que a pessoa queria. Ela não impunha simplesmente, procurava saber o que você queria e depois mostrava a opinião dela sobre e junto com o paciente chegava no melhor consenso.
A princípio, não podia comer nada sólido. Começaria mais uma vez do zero, mastigar era complicado com um cano passando na sua garganta. Mas fora levado em consideração o que queria ou não que fosse triturado em um liquidificador (eca), na minha situação era fácil manipular as pessoas e fazer exigências porque se era para comer... que fosse o que eu gostava (e como voltar a gostar de comer com papa?!? oÕ).
Mas o dia não passou rápido dessa vez, minha cabeça não trabalha bem com rotina, e era exatamente o que tinha virado. Infernal. Chorei a maior parte do tempo, até que uma acompanhante ao lado veio conversar comigo, Jandira, abracei-a a partir de então como mãe. Ela ficou do meu lado até que conseguisse adormecer, acordei no horário de visitas, com minha mãe me chamando. O rosto parecia mais tranqüilo, e Jandira veio ver como estava e conversar com minha mãe. Nascia ali uma forte amizade, umas das poucas que eu realmente tinha.

30 de setembro de 2008

Segundo Dia.

O segundo dia chegou como num estalo. Ainda na noite anterior decidi não incomodar mais os enfermeiros daquele lugar (como se não fosse o trabalho deles), afinal, antes que falasse qualquer coisa já tinham me picado novamente. Tinha lá minhas deduções de ser um tipo de calmante, porque depois senti com mais sono que antes... e dormi, enfim, um sono sem sonhos.
Acordei, de sobressalto, sem entender onde estava e com uma vontade de ir ao banheiro beeeeem grande. Tentei levantar, mas todos aqueles fios me puxaram de volta (uiii). Cai na real então... ainda havia o limite “eu e a cama”. Resolvi deixar o orgulho de lado e chamar alguém, e isso é um passo grande para minha personalidade auto-suficiencia (é, odeio depender das pessoas). Quinze minutos depois resolveu aparecer alguém para me ajudar, desliga aqui, tira ali, desprende daqui... não era muito fácil, e nisso se foi mais meia hora até que fosse seguro levantar sem perder nenhuma tomada em mim. Pronto, enfim, banheiro... e já que estava lá, banho. Como sempre, não olhei no espelho.
Quando saí minha mãe já estava me esperando. Ah, era bom vê-la novamente. Um rosto familiar e amigo faz falta numa hora dessas, e muita. Conversamos por muito tempo, coisas bobas que o cotidiano tinha tirado da gente. Redescobri o gosto de ter a companhia dela, falar sobre besteiras. O único assunto que ficou incógnito foi os motivos de estar ali... até a hora da visita da noite. Foi como se ela quisesse se livrar de um fardo, mas sem saber a melhor maneira de fazer. O único caminho que ela achou foi o objetivo e lançou de surpresa ‘sua irmã quer lhe visitar’... É, por essa eu não esperava mesmo (silêncio).
Então, veio à minha cabeça tudo que já tinha acontecido. Mas, como perdoá-la? Não sei se sou capaz. --- Mãe, vou pensar, dormir. Amanhã a gente fala sobre isso novamente.
Um beijo de Boa Noite (impossível naquele lugar) E se foi novamente.

Chegou a hora dos medicamentos noturnos, menos um dia... Graças a Deus (cedo demais para agradecer). Aparece uma enfermeira com mais injeções, mas uma era diferente, sem agulhas (que é isso?). As comuns foram rápidas, depois os comprimidos, retirada de sangue para exames (estavam era alimentando um Vampiro a meu custo) e por fim, a diferente. A enfermeira desligou a sonda. O que está fazendo? Nada querida, só rotina... é (nova então). Colocou no caninho que saía do meu nariz e puxou qualquer coisa do meu estômago (eca!), uma... duas.... três vezes... até me dar uma ância enorme e uma dor muito aguda. Ácido estomacal normal, ela resmungou sozinha ( e estômago e garganta mais anormal agora). Essa doeu, e me custou muito tempo até conseguir dormir. Mas acordei logo, com a dor três vezes maior e com febre. Muita dor, revirei na cama a madrugada inteira. Essa que também não ajudava muito, muitas tinham pessoas gritavam, sofriam... só eu, fiquei muda suportando sozinha.
A manhã demorou a aparecer, e a dor ainda estava presente. Os enfermeiro chegaram para o banho, mas eu continuei deitada... fui a última. Saí e a nutricionista estava do lado de fora, queria montar minha dieta. Foi aí lembrei, não havia comido nada à dois dias inteiros.

28 de setembro de 2008

Mudanças.

Tempo de mudanças...

Ieaph! \o/°

ઇઉ

Fiz um novo Blog, para colocar meus escritos de coisas recentes. Aqui tá ficando muito desorganizado... e de bagunça, basta minha vida.
Então, neste somente sobre meu passado e a Ana. Mãs, quem gostar de ler (o que eu duvido que exista) o que eu escrevo:

http://limitedelafolie.blogspot.com

Façam uma Idiota Feliz...
Comentem. ^^

22 de setembro de 2008

Um Ano.

Era triste: o melhor lugar do mundo seria longe dela mesma.

Um ano de internação...
quatro anos com ela.

Happy Birthday Ana. (A Mia ta com inveja)

ઇઉ

Queria esquecer, e cada vez lembro mais.

Ontem, saudade.
Hoje, vazio.
Amanhã, interrogação.

26 de agosto de 2008

Internação

O mais próximo de internação que tinha chegado antes daquela quinta feira, 21 de Setembro, foi para tomar soro na veia, que por sinal eram freqüentes quando era mais nova, mas não duravam mais de cinco horas. Era suportável.

Naquela ocasião, eu me movimentava com cautela, qualquer movimento deixava todo meu corpo dolorido.
Entrei enfim, no temido corredor branco. Como era frio alí, incomodava, mais do que ficar sentada naquele banco duro de madeira. "Estão Arrumando seu leito, só mais um momento", disse uma enfermeira com uma certa curiosidade no olhar que me incomodava. Grande coisa, minha vontade mesmo era sair correndo dalí, embora não tivessem janelas suficientes e a única porta me levava ao lugar que esperava não ter que visitar. A espera se fez silêncio, até a enfermeirinha voltar e falar que estava tudo pronto.
Meu coração batia em ritmo até que normal até o momento que troquei de roupa, tirei meu suéter, duas blusas, calças, o jeans, sapatos e as quase tres meias. Impossível não me sentir doente vestindo um pijama dez vezes maior do que eu. Os sentimentos eram conflitantes.
Voltei para o quarto, notei que os leitos estavam todos ocupados. Mulheres idosas e visivelmente adoentadas, não entendia o que fazia alí, muito menos elas com seus olhares atentos e curiosos. Mas o pior foi me despedir da minha mãe, ficar sozinha num lugar completamente desconhecido. Conhecí o medo pela segunda vez, temí o desconhecido. Não tinha a mínima ideia do que era "estar pronto" na cabeça daque mulher de voz artificialmente profissional. O tempo passava devagar, estava anestesiada naquele momento, viver ou morrer não me fazia muita diferença. Muito embora alguma coisa me segurava, e ainda segura, deste lado. O que eu não sei, mas o fato é que estou aquí.
Florzinha, vamos começar os exames? Ah, claro, as coisas não poderiam piorar mesmo. Poderiam sim. Começaram tirando minha pressão, extremamente baixa, depois uma agulha para retirada de sangue, exame sei lá do que, depois mais uma, mais uma, mais uma. Porra! Se essas agulhas não acabarem, meu braço e sangue vão! Enfim, o eletro, amém, iam deixar eu dormir um pouco depois disso, estava extremamente cansada já. Iam? Não mesmo.

Fizeram o eletro então uma vez... Erro! Segunda vez, erro outra vez. Quarta... você poderia tirar esses brincos, acho que eles estão atrapalhando. Não mesmo moça, tire os seus. Por fim desistiram e ficaram com o errado mesmo. Na verdade aquilo tudo não ia levar a nada. Enfim, acabou?! posso dormir. Não! Entram elas novamente, agora com um aparelhinho muito engraçado. Gostei da cor, azul bebê... Tinha uma sacolinha pendurada, eca! Parecia papa encorpada. Um caninho (caninho? Aquilo tinha mais de metro, talvez uns três se bobear) e todo o resto que elas precisariam para....para que? Ela me respondeu à medida que foi fazendo mesmo, aquilo tudo a dava uma glória visível em sua tonalidade de voz, como um médico ensina a seus estagiários o procedimento correto transparecendo seu conhecimento maior. Mesmo assim, parecia apressada, quanto antes eu recebesse aquela crosta melhor, dizia ela.:
Bom docinho, esse caninho vai passar pelo seu nariz (que?), assim (Calma porra, isso dói), até chegar no seu estômago (eu ainda tenho isso?), assim...mais um pouquinho (hei, já chegou), tá acabando (comigo, só se for). Prontinho, não doeu nada né (em você), agora só vou ligar a máquina. Ê, virei o Robocop, cheia de aparelhos, canos, líqüidos e aços. Soro no braço, marcadores no outro, sonda no nariz. Ok! Completo.
Tinha agora uma elefante dentro de mim, Deus, como aquilo tudo no meu estômagozinho de bexiguinha pesava. Mal conseguia respirar, tudo revirava, cabeça, barriga, braço. Eu posso garantir que essa não é a melhor combinação do mundo. Porque dói, dói muito . Estava literalmete restringida à minha cama. Bom, agora pelo menos podia dormir. Enfim, eu apaguei.

Socorro! Preciso ir no banheirooo!!!

10 de julho de 2008

A 1ª Consulta.

Achei que a parte mais difícil era esperar dentro daquela pequena sala de espera, lotada, com todos os olhares inquesitores vindo direto para mim. Mas quando escutei meu nome através da porta, isso sim, me deu medo.
Levantando com uma dificuldade já acostumada entrei lá sozinha, cabeça baixa - como sempre - esperança para que ninguém veja verdade que não consigo esconder dos meus olhos. Principalmente para aquele homem, que ao me olhar manteve sua feição quando apareceu, ele sim eu tinha certeza que era capaz de notar no primeiro olhar tudo que se passava na minha alma.
Entrei sozinha, e ele não disse nada... o silêncio incomodava, seu olhar sério me incomodava. Então, finalmente, ele me pediu para contar tudo o que tinha se passado comigo até o momento. Contei o que pude, pois minha memória assim como meu corpo já estava bastante danificada e me lembrar dos fatos era um trabalho difícil para mim, assim como andar já estava ficando. Aí então fui me pesar, maldita máquina que não mente, 29 quilos em uma estatura de 1,70, IMC beirava quase um 10. Voltei à cadeira (finalmente conforto!) com a mesma dificuldade que fui até a balança, andar doía, sentia meus calcanhares baterem no chão...
Sentada ele me perguntou se tinha noção do meu estado e porque tinha esperado chegar naquele ponto.
Pensei...
1...2...3 vezes antes de dizer a ele que tinha passado por dúzias de médicos incompetentes que não sabiam nada de nada e que quando resolviam me contar alguma coisa só falavam de diagnósticos que eu não compreendia. Então, ele disse que era hora de ser claro. Preferi por meses que tivesse sido um pouco menos, hoje penso de outra forma.
" Bom, ( disse ele ) você está esquelética, seu corpo não aceita mais os alimentos e provavelmente não absorve mais nenhum nutriente que você pensar em ingerir. Acho que é hora de falar com seus pais. Porque sua única chance é um internação imediata."
Caí na real...

A realidade é cruel não é?!?

Bom, não pior que o olhar da minha mãe quando escutou aquilo tudo. Choramos abraçadas, dessa vez não contei o tempo, não fazia mais diferença... podia ser o último abraço que dava nela.
Enquanto isso, meu Dr. conseguira uma vaga no hospital, passou a receita e recomendação ao meu pai e saímos de lá. Uma palavra que me fez pela primeira vez ter esperança surgiu da voz dele: Espero você aqui dentro de um mês menina. E bem!

Pronto... dentro do carro... malas prontas... meus únicos companheiros dentro, livros. Um único pedido antes de ir para o Hospital Regional (voz chorosa): Pai, me leva numa sorveteria?

Oh Deus, redescobrí que amoooo sorvete. Ficara quase dois anos sem sentir seu sabor, não estava disposta a passar uma eternidade a mais sem.
Cômico e trágico. Vida.

(Continua...)

5 de junho de 2008

O Início.

Quem já perdeu algo ou até mesmo alguém, conhece aquela sensação de negação, típica que nosso cérebro usa quando algo de ruim acontece. Você escuta, descobre, e, no momento que se segue a única coisa que passa na cabeça é o "Não acredito! Não acredito!", entra-se em transe, mesmo que por instantes. Depois, vêm à tona então todos os sentimentos que até então estavam dormindo tranqüilamente dentro de você. Ódio, Raiva, Rancor, Mágoa, Medo.
Tudo estava seguindo um certo rumo até que...pof. Você cai estatelada no chão. Como se levasse um tapa, daqueles com a mão bem aberta. Inesperado, mas tão inesperado que não surge qualquer reação. Você só percebe que existe então um problema, que deve ser resolvido, e pára tudo. Faculdade, amores mal resolvidos, trabalho, família...

É, foi bem assim, numa tarde de Setembro. Ela chegou do trabalho, como fazia todo dia e correu para a única companhia que tinha, ajudou então, calmamente sua mãe arrumar o quarto, até seu pai abrir a porta. Foi então que descobriu o que era o verdadeiro inferno que até então chamava de vida. Ele perguntou porquê ela tinha escondido quase um mês que tinha recomendações para ir ao psicanalista, e ela respondeu chorando. Encostou a cabeça no colo de sua mãe que carinhosamente, mesmo sem entender nada, acariciava seus ralos cabelos, chorou, chorou e chorou. Por quase meia hora. Depois, entrou no carro e tomou o seu rumo, direto ao inferno...

Assim começa sua história. História banal como toda história dos tristes.

2 de junho de 2008

O Motivo.

Muitos dizem que ela escreve porque não tem o que fazer,
outros porque ela só tem isso para fazer.
Alguns dizem que é porque gosta,
e raros porque sabe fazer.

Diz Fernando Pessoa que se escreve para esquecer.
Mas ela não, para escrever
ela tem que lembrar, remoer...

E todo remorso vêm à tona,
Sentimentos que corroem
Machucam, como ácido na pele

Tudo dói forte
ela sua frio,
sangue que esquenta,
coração que palpita forte
quase que explode

Então, no ápice da dor
ela põe para fora tudo que faz mal
(guardar é pior, fica tudo desorganizado)
nestas frases desalinhadas
sua loucura, sua doença, seu Amor
perguntas sem resposta.

Anorexia, Depressão.