Achei que a parte mais difícil era esperar dentro daquela pequena sala de espera, lotada, com todos os olhares inquesitores vindo direto para mim. Mas quando escutei meu nome através da porta, isso sim, me deu medo.
Levantando com uma dificuldade já acostumada entrei lá sozinha, cabeça baixa - como sempre - esperança para que ninguém veja verdade que não consigo esconder dos meus olhos. Principalmente para aquele homem, que ao me olhar manteve sua feição quando apareceu, ele sim eu tinha certeza que era capaz de notar no primeiro olhar tudo que se passava na minha alma.
Entrei sozinha, e ele não disse nada... o silêncio incomodava, seu olhar sério me incomodava. Então, finalmente, ele me pediu para contar tudo o que tinha se passado comigo até o momento. Contei o que pude, pois minha memória assim como meu corpo já estava bastante danificada e me lembrar dos fatos era um trabalho difícil para mim, assim como andar já estava ficando. Aí então fui me pesar, maldita máquina que não mente, 29 quilos em uma estatura de 1,70, IMC beirava quase um 10. Voltei à cadeira (finalmente conforto!) com a mesma dificuldade que fui até a balança, andar doía, sentia meus calcanhares baterem no chão...
Sentada ele me perguntou se tinha noção do meu estado e porque tinha esperado chegar naquele ponto.
Pensei...
1...2...3 vezes antes de dizer a ele que tinha passado por dúzias de médicos incompetentes que não sabiam nada de nada e que quando resolviam me contar alguma coisa só falavam de diagnósticos que eu não compreendia. Então, ele disse que era hora de ser claro. Preferi por meses que tivesse sido um pouco menos, hoje penso de outra forma.
" Bom, ( disse ele ) você está esquelética, seu corpo não aceita mais os alimentos e provavelmente não absorve mais nenhum nutriente que você pensar em ingerir. Acho que é hora de falar com seus pais. Porque sua única chance é um internação imediata."
Caí na real...
A realidade é cruel não é?!?
Bom, não pior que o olhar da minha mãe quando escutou aquilo tudo. Choramos abraçadas, dessa vez não contei o tempo, não fazia mais diferença... podia ser o último abraço que dava nela.
Enquanto isso, meu Dr. conseguira uma vaga no hospital, passou a receita e recomendação ao meu pai e saímos de lá. Uma palavra que me fez pela primeira vez ter esperança surgiu da voz dele: Espero você aqui dentro de um mês menina. E bem!
Pronto... dentro do carro... malas prontas... meus únicos companheiros dentro, livros. Um único pedido antes de ir para o Hospital Regional (voz chorosa): Pai, me leva numa sorveteria?
Oh Deus, redescobrí que amoooo sorvete. Ficara quase dois anos sem sentir seu sabor, não estava disposta a passar uma eternidade a mais sem.
Cômico e trágico. Vida.
(Continua...)
10 de julho de 2008
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