Depois de três dias já estava entediada. Jandira era meu refúgio e a cada dia que passava nossos vínculos ficavam mais fortes. Ela sabia quando eu não estava bem, e eu sentia quando ela estava triste por sua mãe não melhorar.
Só ela entendia o quanto era importante para mim fugir de toda a realidade e a única que me ajudava com isso também, sempre me ocupava com alguma coisa, percebeu rápido que gostava de ajudar e de fazer coisas úteis e sempre me arrumava uma. Pois que a realidade e os fatos viessem, mas com calma para que um por um fossem digeridos. Então, tentava não pensar muito naquilo tudo.
Mas uma semana depois tive um leve descuido e quando dei por mim já estava refletindo a situação (é tinha evitado até então). A situação já era degradante demais para pensar em todo o resto. Mas a verdade é que aconteceu e fiquei bem pior do que já estava ao enfrentar a realidade.
Bom, eu era uma garota que uns meses atrás estudava, e trabalhava, andando pela cidade inteira, o dia todo, hiperativa. E que agora desaparecera do mapa (bum!), sem nenhuma explicação não passava pelas mesmas ruas que caminhava todos os 365 dias do ano, que trancou a faculdado do nada, não ajudava mais o pai no serviço, e que não entrava mais em internet, não respondia e-mails e nem fazia telefonemas...
Eu agora era uma garota, que tinha uma família enorme, conhecia uma boa quantidade de gente, que morava numa cidade do interior onde todo mundo conhece todo mundo... e que estava internada no único hospital do lugar acometida de uma doença até então sem histórico na região. E ninguém perguntou onde eu estava, e ninguém se preocupou em mandar um e-mail me perguntando o motivo do sumiço, a razão da falta de notícias, o porquê do abandono... ninguém foi me ver em casa, e o celular não tocou e eu não recebi visitas em um mês de internação.
Bastou dizer para o tio que morava na mesma casa que estava viajando que mais nenhuma pergunta foi feita, questão sem interesse algum. E bastou falar para as visitas da minha mãe que não me encontrava em casa que o assunto foi encoberto por algo mais interessante. E onde estavam os colegas de bares, copos e badernas? E onde estavam os parentes? Onde estavam os amigos de faculdade? As pessoas que ela amava e que jurara amor e amizade eterna?!?
Em algum lugar da cidade... com pessoas mais importantes, interessantes, bonitas e especiais.
Mas ainda tinham duas pessoas que acreditavam em mim, meus pais. E eles e eu.. e só.
E eu chorei a noite inteira, e a manhã inteira e a tarde também... chorei por ser tão pobre de mim a ponto de ser incapaz de ser auto suficiente. Chorei por não Ser... Chorei... Choro... porque não Sou e pelo que nunca Serei.
25 de dezembro de 2008
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