26 de agosto de 2008

Internação

O mais próximo de internação que tinha chegado antes daquela quinta feira, 21 de Setembro, foi para tomar soro na veia, que por sinal eram freqüentes quando era mais nova, mas não duravam mais de cinco horas. Era suportável.

Naquela ocasião, eu me movimentava com cautela, qualquer movimento deixava todo meu corpo dolorido.
Entrei enfim, no temido corredor branco. Como era frio alí, incomodava, mais do que ficar sentada naquele banco duro de madeira. "Estão Arrumando seu leito, só mais um momento", disse uma enfermeira com uma certa curiosidade no olhar que me incomodava. Grande coisa, minha vontade mesmo era sair correndo dalí, embora não tivessem janelas suficientes e a única porta me levava ao lugar que esperava não ter que visitar. A espera se fez silêncio, até a enfermeirinha voltar e falar que estava tudo pronto.
Meu coração batia em ritmo até que normal até o momento que troquei de roupa, tirei meu suéter, duas blusas, calças, o jeans, sapatos e as quase tres meias. Impossível não me sentir doente vestindo um pijama dez vezes maior do que eu. Os sentimentos eram conflitantes.
Voltei para o quarto, notei que os leitos estavam todos ocupados. Mulheres idosas e visivelmente adoentadas, não entendia o que fazia alí, muito menos elas com seus olhares atentos e curiosos. Mas o pior foi me despedir da minha mãe, ficar sozinha num lugar completamente desconhecido. Conhecí o medo pela segunda vez, temí o desconhecido. Não tinha a mínima ideia do que era "estar pronto" na cabeça daque mulher de voz artificialmente profissional. O tempo passava devagar, estava anestesiada naquele momento, viver ou morrer não me fazia muita diferença. Muito embora alguma coisa me segurava, e ainda segura, deste lado. O que eu não sei, mas o fato é que estou aquí.
Florzinha, vamos começar os exames? Ah, claro, as coisas não poderiam piorar mesmo. Poderiam sim. Começaram tirando minha pressão, extremamente baixa, depois uma agulha para retirada de sangue, exame sei lá do que, depois mais uma, mais uma, mais uma. Porra! Se essas agulhas não acabarem, meu braço e sangue vão! Enfim, o eletro, amém, iam deixar eu dormir um pouco depois disso, estava extremamente cansada já. Iam? Não mesmo.

Fizeram o eletro então uma vez... Erro! Segunda vez, erro outra vez. Quarta... você poderia tirar esses brincos, acho que eles estão atrapalhando. Não mesmo moça, tire os seus. Por fim desistiram e ficaram com o errado mesmo. Na verdade aquilo tudo não ia levar a nada. Enfim, acabou?! posso dormir. Não! Entram elas novamente, agora com um aparelhinho muito engraçado. Gostei da cor, azul bebê... Tinha uma sacolinha pendurada, eca! Parecia papa encorpada. Um caninho (caninho? Aquilo tinha mais de metro, talvez uns três se bobear) e todo o resto que elas precisariam para....para que? Ela me respondeu à medida que foi fazendo mesmo, aquilo tudo a dava uma glória visível em sua tonalidade de voz, como um médico ensina a seus estagiários o procedimento correto transparecendo seu conhecimento maior. Mesmo assim, parecia apressada, quanto antes eu recebesse aquela crosta melhor, dizia ela.:
Bom docinho, esse caninho vai passar pelo seu nariz (que?), assim (Calma porra, isso dói), até chegar no seu estômago (eu ainda tenho isso?), assim...mais um pouquinho (hei, já chegou), tá acabando (comigo, só se for). Prontinho, não doeu nada né (em você), agora só vou ligar a máquina. Ê, virei o Robocop, cheia de aparelhos, canos, líqüidos e aços. Soro no braço, marcadores no outro, sonda no nariz. Ok! Completo.
Tinha agora uma elefante dentro de mim, Deus, como aquilo tudo no meu estômagozinho de bexiguinha pesava. Mal conseguia respirar, tudo revirava, cabeça, barriga, braço. Eu posso garantir que essa não é a melhor combinação do mundo. Porque dói, dói muito . Estava literalmete restringida à minha cama. Bom, agora pelo menos podia dormir. Enfim, eu apaguei.

Socorro! Preciso ir no banheirooo!!!