9 de outubro de 2009

"Um dia nossos entes queridos se vão. Quando menos esperamos e sem nenhum aviso, Deus tira de nós o que mais amamos.

Em nosso peito apenas a dor de um punhal que a cada "meus pêsames" parece pesar.
Nossos pensamentos divulgam para cada gota de sangue em nosso corpo a culpa de nunca ter dito: "te amo"; "preciso de você", "estou sempre aqui", "me preocupo", e como se não bastasse vem à frase mais forte "a culpa foi minha".

Nossos sonhos caem por terra, nossa independência parece perder a importância.
E a resposta para essa dor? O tempo e uma certeza:
Quando amamos transmitimos em pequenos atos e gestos, e as palavras não importam mais; quando precisamos de alguém, sentimos sua presença, e as palavras não têm mais sentido; quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós.

E a culpa? A culpa é da vida que tem inicio, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém.
Mas o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo, com ele pensamos nos bons momentos. E com um pouco mais de tempo, transformamos nossos entes queridos em eternos companheiros.
Nossos sonhos ganham aliados, nossa independência ganha acompanhantes, nossa vida conquista anjos.

E no fim apenas a saudade e uma certeza: Não importa onde estejam, estarão sempre conosco."

(Créditos à minha amada Mãe.)

18 de agosto de 2009

4º Dia, 5º, 6º, 7º...

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..........Os dias lá dentro passavam continuamente como acontece sempre aqui fora. As coisas rapidamente viram rotina e conquanto nada de anormal acontecia eu ia perdendo a noção de tempo que me restava. Nada de muito diferente ocorria, sequer o peso mudava (essa era a parte que estava me deixando desesperada), mas vasculhando minha memória me relembrei de um facto que muito me afetou. Não me lembro exatamente o dia, mas mesmo lutando contra minha memória lembro-me perfeitamente bem de como ocorreu...
.........Devia ser um Domingo, porque me lembro de ter ligado para minha mãe logo cedo e de ter escutado o Padre Marcelo com a mãe Jandira. Era quase uma da tarde quando minha mãe chegou lá, me deu um abraço e se aconchegou em meu leito. Fiquei sentada lá com ela um tempo conversando sobre as coisas de fora quando uma mulher ao lado começou a gritar, ela acompanhava sua mãe, que começara a passar mal parecendo perder o ar. Foi estranho, porque ao mesmo tempo que foi rápido, aos meus olhos estava tudo em câmera lenta, seguindo o olhar de agonia daquela senhora que não conseguia mais respirar... Logo os enfermeiros começaram a entrar e a colocar os acompanhantes para fora do quarto, minha mãe entrou nessa junto com as pacientes que conseguiam andar. Bem, eu estava ligada à minha máquina (ainda era um robocop todo conectado na cama) e me vi sozinha e obrigada a acompanhar todo o processo.
..........Saem pessoas, entram máquinas... coisas de que nunca tinha visto e outras que comumente aparecem na TV. Começaram então a ressuscitação com choque, drenagem do pulmão, mas de nada resolveu. Escutei a enfermeira chefe, Meire, dizendo que bastava, é ela estava morta. Às 13:47, o tempo parou, seus olhos pareciam seguir diretamente aos meus, vidrados, ainda vívidos e úmidos, mas eram só os olhos. Parecia meio surreal tudo aquilo, e comecei a me perguntar o pq de tudo, se era tudo tão rápido. Pareceu-me até mesmo indolor.
..........Seu corpo coberto, Meire se lembrou de mim, a única paciente que permanecera na sala (sem contar Dona Ernestina que estava em coma), ela veio conversar, tentando inutilmente me distrair com perguntas fúteis e sem interesse algum. Mas meus olhos ainda estavam parados nela, junto com meus pensamentos. Só minha voz respondia, porque racionava para a maca chegando, o barulho gelado que ela fazia, o corpo embrulhado sendo depositado ali, como se não fosse mais importante foi levada embora. Acabou, a cortina se fechou para aquela mulher tão rápido quanto abriu, e pensei se ela tinha ao menos realizado algum sonho enquanto ainda tinha tempo. Pelo choro da filha, percebi que não. É engraçado, como tudo acontece tão rápido, mas como é uma eternidade para quem permanece.
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..........Porque me lembrei deste fato, não sei. Mas com certeza foi um dos acontecimentos que mais me chocaram quando estava lá dentro, porque naquele dia a morte passou por mim como uma brisa leve, ao lado, e pela primeira vez agradeci por ela não ter me encontrado ali. Mesmo que agora, eu tema que ela se vire para mim.
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..................................................."Só quem já cruzou desertos
.................................................saberá chorar em frente ao mar"
................................................................. Jorge Vercillo
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11 de junho de 2009

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Devia ser proibido. Feriado em época de fossa. Devia ser proibido. O resto pouco me importa. Feriado é muito bom quando a gente tem ânimo, disposição e força pra fazer coisas mais úteis que passar o dia na cama de pijama. Devia ser proibido com força de decreto mesmo. Pra não haver dúvida alguma. E mesmo eu precisando de férias. Precisando de descanso. Mesmo com cada parte do meu corpo doendo. Numa espécie de afogamento interno. Mesmo assim, eu odeio esse marasmo. Essa perca de tempo. Essa inércia incômoda. A vida não espera. Mas eu continuo na cama.

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Unf. Só pra desabafar. Porque as lágrimas brotam sem permissão. Porque tenho sentido dores que estão me incomodando muito nesses últimos dias. Como agulhas me picando todo o tempo. Tanto por dentro, como por fora... tanto no corpo, como na alma.

Eu sinceramente, não me sinto nada bem e não vejo a hora disso tudo terminar...

... de um jeito ou de outro.

26 de maio de 2009

Por três meses eu relutei em escrever aqui, e agora me fizeram pensar nos motivos de ter parado. E ainda não sei. Talvez por ter certeza que isso seja uma inútil perca de tempo... e bem que ultimamente quase tudo tem-me sido perda de tempo. Ou talvez seja mesmo apenas uma covardia de minha parte em relembrar o que meu inconsciente por auto-proteção fizera o favor de esconder.

A verdade é que quando me perguntam e eu começo a pensar em respostas eu também começo a me lembrar e aí... bem, aí já é tarde demais. Porque fico com isso entalado como um nó na garganta e tenho que colocar pra fora, mesmo sabendo que ninguém se importa em perceber.

Mas o maior motivo que me incomoda é relembrar de tudo e ver apenas uma resenha de minha própria vida, de uma forma bem mais rápida. A única coisa ausente nesta versão é que não tenho mais medo. Eu não vejo motivos pra ter medo, não posso imaginar mais nada no mundo de que eu possa temer, nada físico, pelo menos. Uma das poucas vantagens de perder tudo.

E eu venho perdendo, um pouquinho por mês...
E não vejo outro caminho, porque sou dependente, fraca e burra...
Porque eu preciso de algo que me desse sustentação e apoio...

como uma canção de ninar cantarolada para uma criança, como o barulho de uma cadeira de balanço, como o tique taque de um velho relógio quando você não tem nenhum outro lugar pra onde você precisa ir......
eu preciso do som do conforto.

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e de continuar a escrever.

21 de fevereiro de 2009

continuando?!?

Sabe o que é?
É que eu não sei mais como escrever sobre um passado que está no presente e prestes a fazer parte do meu futuro novamente. Eu tenho estado confusa com tudo isso ultimamente, me perdi nesse labirinto que se formou em minha vida.
Caindo no mesmo buraco, e o pior pra mim não tem sido as novas mãos que agora me empurram, mas meus próprios pés que não me seguram mais e que chega cada vez mais perto do abismo. Porque se eu cair, foi por burrice minha, por me entregar novamente e acreditar em promessas. Promessas não devem ser feitas. Nunca!
Promessas não possuem espontaneidade, promessas são só palavras que enfeitamos de previsões de futuro. E palavras enfeitam, não fincam. O que criam raízes são atitudes e só elas podem transmitir segurança.

Não me prometam mais nada.
E também não esperem mais nada de mim,
nada posso fazer por ninguém
se nem mesmo posso fazer por mim.

Acho que isso termina por aqui, e quanto ao fim. Bem, esse vai ser como deveria ter sido há 14 meses atrás.

18 de janeiro de 2009

Dia 17, mais um ano de vida.
e a única coisa que consigo tirar disso é que estamos num eterno balanço que vai e volta o tempo todo o qual eu faço de tudo para ir cada vez mais alto. Percebo ser uma criança que almeja somente o céu, no seu azul mais celeste, além de todas as nuvens... e que por isso cai estatelada, de cara no chão.
Mas a verdade é que o saldo final da equação é quase que desastrosa. Percebo que continuo presa aos conceitos que deixei formularem de mim e nada fiz para quebrar isso, e que agora não há mais jeito. Epítetos que marcaram e que, de certa maneira, me colou a um estereótipo e me causou efeitos estranhos que a psicologia deve conseguir explicar perfeitamente, creio. Eu que não tenho mais capacidade de mudar isso.
O amor veio e foi embora sem me dar tempo sequer de perceber o quão maravilhoso poderia ser, e quando eu corrí para pegar uma caixinha para guardá-lo e não ter o perigo de sumir... puf! Não estava mais lá... somente seu rastro de desilusão amarga que gruda na gente como brasa num ferro quente, essa parte dele nunca se vai.
A amizade se persiste apenas nos mais antigos laços, pois bem que não tiveram escolha. Senão teria conseguido afastá-los como todo o resto, conviver comigo não é mesmo algo muito fácil. Meu consolo são meus pais e minhas irmãs, que ainda aturam todas as loucuras que eu faço. Esse ponto é crucial pois bem os amo demais a ponto de não suportar imaginar uma vida sem nenhum por perto.
Com os erros? Não aprendí quase nada. Até trouxe de volta a melancolia que tanto me fez mal, na sua bagagem a velha Ana... a 246 dias constantes e doze quilos a menos.
Os meus sonhos, perco um a cada dia e noto que não me importo mais agora... desde que o mais importante se foi. Constatar que nunca, por mais que me esforçasse ia conseguir concretizar foi um veneno para o resto. Sobrou apenas o de voar muito muito longe, onde nossos olhos humanos e pequenos nunca alcançam.
Eu só sei que no fim de tudo continuo a ser aquela criança que levantou do chão, persistente de alcançar o céu. Pois pra ferida que não estanca, não fecha, não pára de doer. O remédio é sentar de novo. Olhar pro azul acima e procurar o ponto e tentar alcançar outra vez.

E inspirar. O ar.

25 de dezembro de 2008

Cont...

Depois de três dias já estava entediada. Jandira era meu refúgio e a cada dia que passava nossos vínculos ficavam mais fortes. Ela sabia quando eu não estava bem, e eu sentia quando ela estava triste por sua mãe não melhorar.
Só ela entendia o quanto era importante para mim fugir de toda a realidade e a única que me ajudava com isso também, sempre me ocupava com alguma coisa, percebeu rápido que gostava de ajudar e de fazer coisas úteis e sempre me arrumava uma. Pois que a realidade e os fatos viessem, mas com calma para que um por um fossem digeridos. Então, tentava não pensar muito naquilo tudo.
Mas uma semana depois tive um leve descuido e quando dei por mim já estava refletindo a situação (é tinha evitado até então). A situação já era degradante demais para pensar em todo o resto. Mas a verdade é que aconteceu e fiquei bem pior do que já estava ao enfrentar a realidade.
Bom, eu era uma garota que uns meses atrás estudava, e trabalhava, andando pela cidade inteira, o dia todo, hiperativa. E que agora desaparecera do mapa (bum!), sem nenhuma explicação não passava pelas mesmas ruas que caminhava todos os 365 dias do ano, que trancou a faculdado do nada, não ajudava mais o pai no serviço, e que não entrava mais em internet, não respondia e-mails e nem fazia telefonemas...
Eu agora era uma garota, que tinha uma família enorme, conhecia uma boa quantidade de gente, que morava numa cidade do interior onde todo mundo conhece todo mundo... e que estava internada no único hospital do lugar acometida de uma doença até então sem histórico na região. E ninguém perguntou onde eu estava, e ninguém se preocupou em mandar um e-mail me perguntando o motivo do sumiço, a razão da falta de notícias, o porquê do abandono... ninguém foi me ver em casa, e o celular não tocou e eu não recebi visitas em um mês de internação.
Bastou dizer para o tio que morava na mesma casa que estava viajando que mais nenhuma pergunta foi feita, questão sem interesse algum. E bastou falar para as visitas da minha mãe que não me encontrava em casa que o assunto foi encoberto por algo mais interessante. E onde estavam os colegas de bares, copos e badernas? E onde estavam os parentes? Onde estavam os amigos de faculdade? As pessoas que ela amava e que jurara amor e amizade eterna?!?
Em algum lugar da cidade... com pessoas mais importantes, interessantes, bonitas e especiais.
Mas ainda tinham duas pessoas que acreditavam em mim, meus pais. E eles e eu.. e só.

E eu chorei a noite inteira, e a manhã inteira e a tarde também... chorei por ser tão pobre de mim a ponto de ser incapaz de ser auto suficiente. Chorei por não Ser... Chorei... Choro... porque não Sou e pelo que nunca Serei.